sexta-feira, dezembro 29, 2006

Previsões 2007 (Portugal)



O próximo ano será marcado por quatro acontecimentos principais: o referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, a época de incêndios, a presidência portuguesa da UE e, estando nós na futebolândia, a disputa do Campeonato da Europa.
Em relação ao primeiro tema, penso que haverá uma vitória fácil do “sim”. Não querendo entrar em polémica com alguns dos meus queridos companheiros de blogue que defendem o “não”, abstenho-me de justificar esta previsão. Limito-me a dizer que votarei pelo “sim”.
Em relação à época de incêndios, será o drama habitual, com as também habituais discussões estéreis sobre se este Governo é melhor do que o anterior, com as respectivas estatísticas deturpadas sobre o número de hectares ardidos.
Há vinte anos, quando era estudante do Instituto Superior de Agronomia, os professores já ensinavam que haveria incêndios florestais em Portugal enquanto a floresta fosse a errada, ou seja, plantada com espécies de crescimento rápido, mas sem adaptação ao clima. Entretanto, todas as tendências da época se agravaram: há mais desertificação humana, proliferam as matas com uma única espécie (sempre a mais errada para o clima seco) e interesses económicos incendiários. O ministro da Agricultura, Jaime Silva, que conhece o problema, tentou dizer isto, mas foi imediatamente calado pelos lobbies.
A luta contra os incêndios (a obsessão de Governo, oposição e comunicação social) é um pouco como curar uma infecção com aspirinas: pode baixar a febre e reduzir os sintomas, mas nunca curará o mal. Com ou sem spin doctors.
Por falar em spin, o actual Governo continuará, sem êxito, a tentar controlar a informação. Tentará, sem êxito, fazer algumas reformas pouco significativas e prosseguirá, sem êxito, a sua governamentalização da administração pública.
Do lado mais sensato, continuará o esforço de consolidação orçamental, num ajustamento económico doloroso para a população, que se prolongará além de 2007.
O desemprego desafiará as leis da física, mantendo-se estável numa economia em crescimento deficiente, graças a estatísticas no mínimo notáveis.
A presidência portuguesa será uma boa ocasião para propaganda, mas as regras mudaram (agora, está sempre presente um país grande num trio) e penso que a Alemanha tentará controlar não apenas o seu semestre, mas o ano e meio que teoricamente é gerido por três países a coordenarem a agenda entre si. Como só existe um tema a sério, a reforma institucional da UE, a senhora Merkel estará no comando do essencial até Junho de 2008. Portugal ficará com algumas migalhas, nomeadamente a cimeira UE-África, que a realizar-se será uma boa ocasião propagandística, embora a relação entre Europa e África não vá mudar um milímetro: eles serão fonte de matérias-primas baratas, governados por elites corruptas que fazem compras de produtos de luxo em Paris, e nós continuaremos a estimular o grande negócio humanitário.
Finalmente, coisas sérias e uma nota optimista: o apuramento para o Euro 2008. O grupo é muito mais difícil do que parece e a Polónia assume-se como rival sério, mas penso que a nova geração de craques estará à altura do desafio.
Afinal, apesar da conjuntura, Portugal é um País muito resistente. Como as pilhas Duracell.