segunda-feira, dezembro 11, 2006

Notas sobre politiquice internacional

1. Ainda no rescaldo do congresso do Partido Socialista Europeu, no Porto, urge que alguém esclareça uma jornalista de uma televisão nacional que fez a cobertura do "evento" de que Ségolène Royal ainda não é a Presidente da República Francesa e que muita água ainda há-de passar debaixo da ponte para que venha a ser, se é que irá ser. Então não é que durante um dos directos da "têvê" oiço a menina a dizer qualquer coisa do género: "O momento mais alto até agora foi mesmo a intervenção daquela que já é vista como a Presidente da França". O quê?
Se bem que no sítio de onde era emitido o directo fosse normal ouvir referências daquele tipo a alguns dos intervenientes, é bom lembrar à menina que Ségolène tem ainda muito caminho a percorrer e que uma pitada de isenção jornalística não lhe ficava nada mal. Nicolas Sarkozy tem liderado destacado todas as sondagens até ao anúncio deste fim de semana do apoio do antigo ministro Jean-Pierre Chevènement. A assinatura de uma "plataforma política" do movimento de Chevènement com a candidatura-camaleão de Ségolène é certo que faz subir a madame uns pontozitos nas sondagens, mas na altura a jornalista ainda não tinha estes dados. E mesmo que os tivesse, alguma cautela e bom senso não lhe fariam mal nenhum.
2. Julgo que não passou despercebido a ninguém o texto assinado a meias no Expresso da autoria de Poul Rasmussen, que foi reeleito por unanimidade para mais um mandato como presidente do Partido Socialista Europeu, e do nosso ministro da Segurança Social e do Trabalho, Vieira da Silva. Lido o artigo e ouvidas as conclusões que saíram do congresso, fica-se com a ideia de que vem aí a "flexigurança". O artigo serviu de aviso e expressões como "novo modelo social da Europa", "plano de emprego que combata a exclusão" ou "luta pela qualificação dos trabalhadores", adoptadas no congresso, fazem parte do léxico que antecede a sua legitimação.
3. Acho que não me engano se disser que Sócrates se excedeu no entusiasmo pela recepção a Howard Dean. Não só o homem pode não passar das primárias democratas, se é que é homem para as disputar contra, por exemplo, Hillary Clinton, como o excesso de entusiasmo pode prejudicar as relações bilaterais com os EUA. Dean apareceu cá, não como presidente dos Democratas, mas como autêntico pré-candidato. Cheio de considerações sobre o Iraque, a política externa norte-americana, etc.
Já sobre os abracinhos a Prodi, o que dizer? Agora que têm surgido informações que o dão como um ex-informador do KGB, o que tem levantado muita polémica em Itália e nos meios que investigam a morte do ex-espião russo Alexander Litvinenko.
4. A morte de Pinochet. Há uns anos, através de conhecimentos comuns, conversei algumas horas com Patricio Alwin Azócar, primeiro presidente eleito depois da ditadura de Pinochet. Lembro-me de me ter dito que o seu mandato (de 1988 a 1994) foi muito vigiado pelos militares fiéis ao ditador, que se fez eleger senador vitalício e que naquela altura conservava ainda a chefia do Exército. Fiquei com a ideia de que aquele homem justo, um jurista sério e político democrata-cristão tinha sido uma espécie de Marcello Caetano, embora quisesse e pudesse ter sido muito mais. Não o foi por causa das ramificações que Pinochet manteve mesmo em democracia, o que lhe permitu nunca ter sido julgado no seu País pelos crimes hediondos que praticou. O Chile perdeu anos, décadas. Mas não se pense que está livre. Muitos dos que não permitiram o julgamento de Pinochet estão vivos, infiltrados nas forças armadas chilenas e nas instituições democráticas. Patricio, através da sua Corporación Justicia y Democracia, preside hoje ao Focus Eurolatino, que me manda sempre um registo dos seus projectos e organizações. Hoje dei lá um salto ao site oficial e zero, não há a mínima referência à morte de Pinochet... É pena, no melhor pano cai a nódoa.
5. Já agora, não sei se alguns defensores da espécie repararam nos elogios do dr. Soares a Hugo Chávez, numa entrevista a Ricardo Costa (SIC)? Exactamente, o mesmo Chávez que o fiel leitor está a pensar. Aquele a quem o dr. Soares não reconhece desvios e que é um primor na defesa da democracia na Venezuela... O mesmo que ainda este fim de semana pediu um "viagra político" para reabilitar a América do Sul. Não sei do que fala, mas não deve ser coisa boa...