quarta-feira, dezembro 13, 2006

Nazis de turbante

Nenhuma iniciativa desenvolvida recentemente na cena internacional me pareceu tão repugnante como a conferência realizada em Teerão, no início desta semana, sob o patrocínio do Governo iraniano, para procurar demonstrar que o Holocausto foi “um mito”, como alegou o presidente Mahmoud Ahmadinejad.
A ditadura teocrática que pretende riscar Israel do mapa, eventualmente com o recurso à bomba atómica, reuniu 67 “especialistas” de 30 países, travestidos de historiadores, com o intuito criminoso de justificar a barbárie nazi. “O regime sionista tem os dias contados e desaparecerá muito em breve”, bradou Ahmadinejad, entre aplausos de “académicos” como o francês Robert Faurisson, já condenado em tribunal por considerar o Holocausto “uma mentira histórica”.
O chefe da diplomacia iraniana, com insuperável cinismo, justificou a iniciativa em nome da liberdade de expressão. Os pseudo-historiadores hospedados em Teerão, acentuou, “não podem exprimir livremente na Europa os seus pontos de vista sobre o Holocausto”. Dificilmente ouviremos algo tão obsceno nos tempos mais próximos.
Perante isto, surpreende-me que a esquerda que se reclama dos valores ainda procure caucionar os aiatolas pró-nazis. Miguel Portas, por exemplo, dispara na última edição do Sol contra a candidata socialista à presidência de França, Ségolène Royal, que teve o bom senso de separar as águas. Qual o pecado de Ségolène? Ter dito o seguinte: “Não se pode deixar o Irão aceder ao nuclear civil, logo militar. Esta será a minha posição se for eleita.” Trata-se de uma “asneira”, proclama o eurodeputado bloquista, enchendo-se de brios machistas contra a “nova guerreira que desponta em Paris”. Contra a teocracia racista, nem um sussurro de Portas.
Presumo, apesar de tudo, que o eurodeputado se demarcará um dia destes dos nazis de turbante que garantem que o Holocausto nunca existiu...