quarta-feira, dezembro 13, 2006

Cheira a Lisboa

No metro, vejo entrar o cego do costume. Com uma novidade no reportório: toca a Coppelia no velho acordeão. Indiferença total na carruagem: ninguém lhe dá esmola. De súbito, entre as estações da Alameda e de Arroios, põe cobro de vez à valsa e ataca vigorosamente os primeiros acordes do "Cheira bem, cheira a Lisboa". E logo começa a receber moedas dos mesmos passageiros que ainda há pouco o ignoravam. Nós, portugueses, somos assim: bairristas até à medula, com uma espécie de alergia genética ao mais remoto indício de cosmopolitismo. Até o acordeão de um cego serve para realçar esta evidência.