Uma questão de TAGS - Crónica
Tenho dois amorosos adolescentes em casa. Com eles (e mais através do conhecimento do "mundo" deles), apercebo-me das aspirações e realidade da geração jovem que agora desponta, nos alvores do século XXI. Constato todos os dias que eles (saudavelmente) desconstroem e desconfiam da herança que lhes queremos deixar. Aliás os miúdos acreditam firme e insolentemente que o mundo começou ontem, ao som do hip hop.
Quando eu tinha a idade deles, acreditava ter nascido no auge da história, e viver na curva vertiginosa da definitiva viragem do homem para a clarividência. Toda a iconografia juvenil, a expressão plástica, política e tecnológica nos anos 70 me pareceia apontar nesse sentido. Na tecnologia, pontificava a recente ida à Lua, a alta-fidelidade e o nuclear. O reacender do surrealismo na literatura, os Sex Pistols ou a Patty Smith, a música minimal de Jorge de Lima Barreto a pintura de António Palolo, tudo parecia ser possível, a regra e os limites estavam erradicados. Na moda, nas roupas, em tudo parecia-me impossível mais criatividade. A liberdade era um privilégio dos mais afoitos. Olhando para o hippie de tamancas, roupa "selvagem" e cabelo hirsuto, para as justíssimas calças do punk de cabelo pintado e camisolão até aos joelhos, duvidei que a originalidade e a contestação chegassem algum dia mais longe. O mundo tinha mudado para sempre e eu apanhara o comboio.
Quando eu tinha a idade deles, acreditava ter nascido no auge da história, e viver na curva vertiginosa da definitiva viragem do homem para a clarividência. Toda a iconografia juvenil, a expressão plástica, política e tecnológica nos anos 70 me pareceia apontar nesse sentido. Na tecnologia, pontificava a recente ida à Lua, a alta-fidelidade e o nuclear. O reacender do surrealismo na literatura, os Sex Pistols ou a Patty Smith, a música minimal de Jorge de Lima Barreto a pintura de António Palolo, tudo parecia ser possível, a regra e os limites estavam erradicados. Na moda, nas roupas, em tudo parecia-me impossível mais criatividade. A liberdade era um privilégio dos mais afoitos. Olhando para o hippie de tamancas, roupa "selvagem" e cabelo hirsuto, para as justíssimas calças do punk de cabelo pintado e camisolão até aos joelhos, duvidei que a originalidade e a contestação chegassem algum dia mais longe. O mundo tinha mudado para sempre e eu apanhara o comboio.
Mas olho para os jovens de hoje e espanto-me como a sua imaginação e irreverência se mantêm sem limites. De fato de banho a cair pelas pernas com boxers por baixo, t shirts por cima de camisolas, skate debaixo do braço e fones nas orelhas, aderem a distintas e diversas "correntes" estilizadas, os góticos, dreads, os (ainda) punks, os rastas etc. etc. trocam na Internet ficheiros de temas hip hop construídos pelos próprios, simples protestos ou declarações de amor. E assim, assustados e inseguros, eles afirmam-se donos incontestáveis da verdade e do seu tempo. Outra vez...
Mas parece-me quase sempre que o que lhes falta são "ideais". Quanto a mim, falta-lhes "colar" uma "ideologia", um "projecto" ou uma "utopia", à sua infindável energia contestatária. Falta-lhes colar um significado ao seu Tag. Aliás, o desprezo - quase sempre inconsciente - pela participação na res publica é por demais evidente na rapaziada. E é isso que me deixa mais apreensivo.
Eu, quando era um rapaz novo, julgava-me parte de um processo irreversível de construção de um mundo mais humanizado e justo. E, para dizer a verdade, ainda me penso assim.
Eu, quando era um rapaz novo, julgava-me parte de um processo irreversível de construção de um mundo mais humanizado e justo. E, para dizer a verdade, ainda me penso assim.