Ele chama-se Aníbal - e não Mário
Cavaco Silva definiu ontem o seu vago conceito de "cooperação estratégica", dando-lhe um conteúdo que só pode ter agradado ao Governo e desagradado profundamente à oposição - a começar pelo PSD, que gostaria de ter em Belém um aliado no desgaste da acção de José Sócrates. Compreensivelmente, Cavaco não embarca neste canto de sereia: não contem com ele para tirar o tapete ao primeiro-ministro. Ele chama-se Aníbal - e não Mário.
Mas talvez nem o próprio primeiro-ministro imaginasse que o Presidente, habitualmente parco em palavras, fosse ontem, na entrevista à SIC, tão expressivo na apreciação elogiosa que faz do desempenho do Executivo socialista. Dizendo coisas como estas:
- "Este Governo revela um espírito reformista."
- "Numa democracia adulta os governos não mudam com frequência e não existem guerrilhas institucionais."
- "Temos [ele e Sócrates] uma relação de cooperação leal. É fundamental uma relação de lealdade entre os órgãos de soberania."
- "Até este momento não houve qualquer dessintonia [com Sócrates]. Nem leve."
- "Nunca utilizarei o poder de veto como arma de arremesso. Portugal não precisa de um governo fragilizado. Nunca fragilizarei o Governo."
- "Eu não quero ser contrapoder. Eu não sou contrapoder."
Esta entrevista, pelo atestado de longa vida que concede ao Governo num momento em que vinha crescendo a mobilização social contra Sócrates, constitui uma espécie de pesadelo para Marques Mendes. Com "aliados" como Cavaco, o PSD não precisa de adversários...