Setembro de 1972
«O que não sei é se um Governo português, por mais autoritário que seja, terá força para acabar com essa longa e funda tradição, esse violentíssimo hábito, esse imoderadíssimo instinto, tão teatral, tão literário, tão operático, que mobiliza o gesto, de Gil Vicente a Garrett, que evoca a palavra, de João das Regras a José Estêvão, que suscita a voz, dos cantores medievais a Tomás Alcaide, - o discurso de posse.
O que eu não sei é se um Governo português, por mais autoritário que seja, tem força para deter essa coreografia centenaríssima da ambição pessoal, esse venezianismo da manobra, esse jesuitismo da aparência, esse lisboetismo da duplicidade, - o sim, mas».
Artur Portela Filho, «A Funda», 3º Volume, Editora Arcádia.