Anticorpos
Não tardará muito até que esta encenação à volta do Bloco Central comece a gerar os seus anticorpos no Partido Socialista e no PSD. Sendo ambos dois partidos que gravitam do centro-esquerda ao centro-direita do eleitorado, esses anticorpos irão surgir, respectivamente, na ala esquerda do PS e na ala direita do PSD. Isso é certo.
À esquerda já há sinais disso. Manuel Alegre, no DN de hoje, acusa Cavaco Silva de "exorbitar as suas funções" como Presidente da República para alegadamente fazer pressões para novos pactos entre Governo e PSD, sobretudo numa altura em que Marques Mendes começa já a falar da necessidade de um "pacto de geração" na Segurança Social. Sabendo Alegre, melhor que ninguém, o que isso pode acarretar em termos de divisões internas no PS, é lógico que o verdadeiro destinatário da mensagem não é Cavaco, é antes o núcleo duro (muitos são soaristas, outros estiveram com ele na luta interna pela liderança) da esquerda socialista que ainda existe no cada vez mais social-democrata partido de Sócrates. No Público, Vital Moreira escreve um artigo, intitulado "Virtudes e limites do governo pactício". E pode ler-se, em jeito de aviso (de um dos independentes mais respeitados à esquerda): "O cerne da democracia de partidos não consiste na consensualização sistemática de políticas entre o Governo e a oposição, mas no confronto de posições".
À direita, para já, o dr. Lopes, como lhe chama Marcelo, está de acordo e desfaz-se em elogios ao pacto de Justiça. O resto do partido aguarda desenvolvimentos, mas não anda sossegado. Há mais de vinte anos, Marcelo e outros notáveis do PSD - como Júdice, António Pinto Leite e Braga de Macedo - juntavam-se no Semanário (um jornal muito distante, como é óbvio, do de hoje) e, sob a liderança jornalística de Victor da Cunha Rego, mordiam os calcanhares ao Bloco Central institucionalizado. Veremos quem o fará agora, com um Bloco Central não institucionalizado, mas porventura muito mais eficiente do que o outro. Mão Invisível procura-se...