Para o Líbano e em força?
É impressão minha ou as mais recentes declarações do ministro da Defesa Nacional, Nuno Severiano Teixeira, representam um recuo estratégico em relação ao que foi sendo dito e escrito nas últimas semanas? Aqui entre nós, poderá mesmo ser a abertura de uma janela para o Governo inverter a posição relativa ao envio de tropas portuguesas para o cenário terrível do Líbano, no âmbito de uma força mais vasta da União Europeia e sob a chancela de uma resolução da ONU que há dias todos consideravam quase perfeita e que agora parece padecer das maiores enfermidades?
O mesmo ministro que há dias estava muito empenhado em que Portugal participasse no esforço de pacificação do Líbano, disse agora, depois do encontros com os partidos, que "o Governo, perante uma situação complexa, está a ponderar com muita exigência e prudência o envio de militares para o Líbano". Por outras palavras, se a missão ainda é exequível, com a informação que hoje existe e, sobretudo, com as reticências todas que o Presidente da República impôs. Desconfio que neste ponto concreto o comandante supremo das Forças Armadas, Cavaco Silva, quando disse que o assunto tem que ser pesado "com muita cautela", estava a pensar no sentimento que deve ir na alma dos militares mais experientes. Aquele não é um teatro onde Portugal possa e deva actuar assim sem mais nem menos. Por isso o PR soltou esta frase, citada (e adaptada) pela Lusa, que diz tudo: "Não se enviam soldados portugueses para um teatro de tão grande complexidade" sem pesar bem todos os condicionamentos "políticos e militares". Aqui para nós, esta é a doutrina do momento. Se calhar, em São Bento, no Restelo e nas Necessidades não se pesaram bem esses condicionamentos "políticos e militares". Ou então não viram que peso relativo esses condicionamentos teriam em Belém.
P. S. - Repeti a expressão "condicionamentos" de propósito. É que ela pode significar que já entrou em acção aquilo que muitos chamam de... magistratura de influência do Presidente da República.