A fase dos neutros
«Um Manifesto da Direita em Portugal» tem 22 páginas. Acabei de lê-las e tirar a seguinte conclusão: Faltam-lhe (ao Manifesto) tomates.
Bem redigido, o texto aponta os dedos todos ao cenário político pós-25 de Abril, inquinado por uma ideologia oficial e uma Constituição de bases marxistas que todos perfilharam.
Depois, acusa por um lado «alguns» políticos de Direita de contemporizarem com as políticas de Esquerda (não se esclarece quem e porquê, mas adiante) e a Esquerda de se arvorar em concessionária de alvarás de quem é ou não de Direita e Extrema-Direita. Até aqui, a lógica do discurso tem um encadeamento sustentado.
A Nação, o Estado e as dicotomias que separam a velha da nova Direita são apresentadas de forma a delinear a fronteira entre os territórios de uma e outra. De forma polémica, mas pelo menos com clareza e capacidade de síntese e sem lirismos rococós retóricos. Excelente.
Mas, e há aqui um grande mas, o Manifesto diz a certa altura isto: Que «uma Direita consciente de si própria deve ter, como missão primeira, o recentramento do regime». E que isso deve traduzir-se em «induzir neutralidade ao regime, lutando por uma Constituição ideologicamente neutra».
Aqui, pacientes leitoras e leitores, é que a suina torce o rabo. O PND quer uma união da Nova Direita, não para construir um regime de Direita com valores de Direita, mas para o recentrar neutralizando-o ideologicamente. É a sua «missão primeira». A mim, parece-me uma «missão primeira» não só frouxa como desnecessária e nada mobilizadora, porque vácua dos mesmos valores e conteúdos apresentados no manifesto. Ou, dito de uma forma eufemística, uma missão primeira que não os tem no sítio. É pena, porque assim não mobilizam ninguém. Mais ao centro o regime não poderia estar e ideologicamente neutros já andamos nós todos.