Amaciador
Ninguém me tira da cabeça a ideia de que o Governo só se lembrou de convidar o Presidente da República para receber o primeiro passaporte electrónico português (ou "PEP", como já lhe chamam) porque, de alguma maneira, convém tentar ir "amaciando" a "coisa" com Belém por estes dias. O convite foi feito há algum tempo, dizem-me, mais concretamente na altura em que se soube que um aviãozinho israelita de transporte militar escalou a Base das Lajes e o executivo não terá dado qualquer informação ao Chefe de Estado e comandante supremo das Forças Armadas. Para além disto, outras questões foram surgindo, nas quais se inclui o Líbano. Foi Cavaco Silva que introduziu alguma calma na questão, depois de os ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa terem posto a carroça à frente dos bois. O Presidente aconselhou cautela, disse que era preciso ter atenção aos "condicionamentos políticos e militares" e chegou a dizer que era "extemporâneo" falar-se já do envio de tropas portuguesas para o Médio Oriente. Pelo meio, Cavaco aprovou a Lei da Paridade, sem notas, mas numa espécie de regime experimental, e a Lei Eleitoral dos Açores, cheia de notas e recomendações. Daí que o passaporte seja hoje entregue a Cavaco e não a Sócrates, que tem tido direito a tudo o que de mais moderno se faz neste País. De caixas electrónicas postais, a cartões únicos que ainda não existem, até procedimentos administrativos muito "simplexes". Desta vez, cede o lugar ao PR e aos dois artistas envolvidos na reconversão do nosso passaporte: Henrique Cayatte e Júlio Pomar. Enfim, é só uma ligeira desconfiança que tenho, mas acho que os spin doctors de São Bento não conhecem bem o terreno em que se movem agora. É que o "amaciador" não funciona sem "champô", passe a linguagem de barbeiro...