Indignação selectiva
Acabo de ouvir o deputado Fernando Rosas, do Bloco de Esquerda, desferir uma violenta diatribe contra Israel, expressando “solidariedade aos povos palestiniano e libanês”. Nesta dura intervenção, que quase abalou a vetusta sala das sessões de São Bento, o vociferante parlamentar não esteve com meias palavras: “O Estado de Israel não é um Estado de Direito”; “elimina os seus adversários políticos sem julgamento”; “ataca sistematicamente pessoas inocentes”. E por aí fora...
Só foi pena que não tenha aproveitado a embalagem para proferir uma palavra contra os repugnantes actos terroristas cometidos pelo Hezbollah. Nem contra a violação sistemática da soberania libanesa cometida durante anos pela Síria, que transformou Beirute num virtual protectorado de Damasco. Nem contra o radicalismo islâmico, que tem contribuído decisivamente para tornar o Médio Oriente num vitalício barril de pólvora.
Esta indignação selectiva, que teima em denunciar apenas as atrocidades cometidas por um dos contendores, esquecendo os crimes cometidos pela parte contrária, tem uma longa tradição numa certa esquerda intelectual e política que, após décadas de omissões de toda a espécie neste domínio, perdeu toda a autoridade moral para criticar seja o que for. Pode vociferar ainda, mas o eco que encontra é pouco ou nenhum.