Detestar o rei
A propósito dos posts que o Pedro Correia escreveu aqui sobre o livro de Vasco Pulido Valente sobre Paiva Couceiro, e já agora da interessante entrevista que ele fez no DN ao autor, a determinada altura o Pedro refere que o biografado era monárquico, mas detestava D. Manuel II. Para muitos isto pode parecer contraditório, mas para mim não. Aliás, creio que grande parte dos equívocos dos republicanos sobre o sistema monárquico residem aí. Eu posso acreditar nas virtudes da monarquia, mas não gostar do rei ou achar que ele tem poucas qualidades pessoais. Ou até detestá-lo. A monarquia constitucional tolera tudo isso. Muitos ingleses não gostam do principe Carlos, mas poucos põem em causa a monarquia por causa disso. Assim como os republicanos que detestavam Salazar e Américo Tomás não punham em causa a república. E os republicanos russos não quiseram a volta da monarquia por causa de Stalin. E os republicanos alemães não o fizeram por causa de Hitler. Nem os chineses por causa de Mao Tse Tung. E saindo do mundo dos ditadores republicanos que fizeram do século XX o mais sangrento da história, quantos presidentes democraticamente eleitos são detestados pelos que não votaram neles?
(Já agora, para que não surjam equívocos de outro tipo, eu gosto muito de D. Duarte de Bragança e acho que ele daria um bom chefe de Estado, coisa que quase nunca tivemos desde 1910.)