quinta-feira, junho 08, 2006

Sem preconceito

Numa análise às primeiras condecorações de Cavaco Silva no Dia de Portugal, 10 de Junho, destaque para a Grã-Cruz da Ordem de Sant’Iago da Espada atribuída a Joaquim Veríssimo Serrão. Este historiador, algo prejudicado ao longo dos últimos anos pelo envolvimento que teve no antigo regime (não interessa agora discutir o grau), é autor de vários volumes da História de Portugal (edições Verbo) que são um "must" em qualquer biblioteca que se preze. Isto para além de livros como "Confidências no Exílio", onde relata os últimos anos de Marcello Caetano no Brasil e aquilo que o antigo presidente do Conselho pensava de Salazar, do salazarismo, dos salazarentos e de alguns dos seus antigos alunos, que viriam a ser os protagonistas principais da política portuguesa do pós-25 de Abril. De Cunhal (e o célebre exame de Direito feito na prisão) a Soares, passando por Sá Carneiro e Freitas (o delfim, muito criticado por abandonar o mestre depois da Revolução). A Grã-Cruz de Veríssimo Serrão é o reconhecimento sobretudo pelo seu papel na investigação histórica e por décadas de dedicação ao ensino universitário. E é uma demonstração de que Cavaco, neste aspecto, não olhou ao passado e não teve preconceito.
Para além desta condecoração, Eduardo Catroga, para muitos o melhor ministro das Finanças do próprio Cavaco, será agraciado com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo; Rui Rio vê reconhecido o seu trabalho no Porto (para além de marcar pontos para a sucessão na liderança do PSD...) com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique; os "grandes oficiais" Arlindo Cunha (da direcção de Marques Mendes) e Daniel Bessa (antigo ministro da Economia de Guterres e um dos mais desempoeirados pensadores de esquerda) provam que a distribuição não é partidária. Já a condecoração de Sérgio Rebelo - que, para quem não sabe, esteve para ser ministro das Finanças de Durão Barroso - é a de um economista e professor de sucesso nos EUA (e um dos valores a acompanhar quando a agulha voltar a virar).
Mas mesmo importante é o facto de Cavaco ter feito da Liga Portuguesa Contra o Cancro membro honorário da Ordem de Cristo. Isto sim, e políticas à parte, vale a pena sublinhar.