Um postal de Lisboa
É um casal de velhos, já de bastante idade. Caminham a meio da manhã pela Alameda da Cidade Universitária, na direcção do Campo Grande. Cruzam-se comigo, interpelam-me como náufragos em busca de bóia. "O senhor sabe dizer-nos onde é a Rua Helena Félix?" Gostaria de ajudá-los, mas desconheço onde fica a rua. Tenho no entanto a convicção de que circulam na direcção errada. "Vamos lá fazer umas análises. Disseram-nos que era perto do Hospital Santa Maria..." Há ali perto uma estação de metropolitano: apetece-me recomendar-lhes que desçam à procura da informação correcta. Mas é domingo: e se lá não encontram nenhum funcionário do Metro? E se têm de descer e subir a escadaria em vão? Sugiro-lhes que invertam a marcha e caminhem em direcção à Avenida das Forças Armadas, rumo a Entre Campos - não deve ser longe dali.
Agradecem-me e prosseguem no seu passo desamparado.
À nossa volta galopam carros acelerados, num ritmo frenético. Na bela manhã de sol, mais ninguém caminha pela alameda verdejante. Olho ainda os velhos no seu andar trôpego em busca de um laboratório de análises clínicas. São da província, não conhecem ninguém na capital. Nem encontram ninguém que lhes possa valer. Um perfeito contraste com a radiosa manhã de sol. Um amargo postal, como tantos outros, desta enigmática Lisboa.