Crítica da crítica
Queria pegar numa deixa do Pedro Correia, em posta anterior, sobre “o regresso do realismo social”. Não vi o filme “Terra Fria” e, portanto, não estou aqui a falar desse filme, nem apenas do cinema. A posta do Pedro inclui uma crítica aos críticos, por estes terem ignorado “Terra Fria”. Na minha opinião, a frase toca num problema central: o desinteresse da crítica portuguesa em relação a uma das vertentes mais importantes da narrativa contemporânea, desinteresse esse que revela um determinado gosto. Atrevo-me até a falar em “gosto da moda”. Quando alguém conta uma história, seja em literatura, teatro ou cinema, tem duas opções genéricas, ou escolhe desenvolver o mundo interior das suas personagens ou o efeito que o mundo exterior tem nas suas personagens. Dito de outra maneira, pode optar entre a intimidade e a sociedade. Claro que os génios conseguem misturar os dois elementos, mas é difícil. Dois excelentes escritores, como Lobo Antunes ou Saramago, são distintos na dose que concedem a cada uma das duas vertentes. Ora, a moda dominante da crítica parece incomodada quando depara com histórias que optaram pelo realismo e por alguma dose de análise social. Acho evidente que uma escolha nunca é superior à outra, mas a crítica valoriza em excesso a intimidade, tornando quase invisível a sociedade. Como se o mundo em que vivemos não tivesse problemas sociais e o exercício de os discutir fosse tarefa indigna dos artistas, lá na sua torre de cristal.