segunda-feira, março 20, 2006

Crise francesa e crise europeia (II)

Neste conflito é a segurança no emprego que está em causa. Este foi um dos argumentos mais importantes no debate sobre a Constituição Europeia, que o eleitorado francês rejeitou por temer o chamado “canalizador polaco”, referência a uma directiva europeia que teria consentido a empresas polacas operarem em território francês sob regulamentação polaca, o que os franceses viram como uma ameaça aos padrões elevados do seu mercado.
Acho que os comentadores liberais sobrevalorizam a importância do argumento segundo o qual leis de emprego precário aumentam o número de pessoas empregadas. Sim, mas criam empregos de má qualidade e mal pagos. Quando os serviços públicos se degradam e diminui a protecção no desemprego, a maioria das pessoas vê na precarização uma promessa de empobrecimento. E o que tem a perder uma pessoa que protesta nas ruas contra uma iniciativa que a vai prejudicar?
Também se diz que os avanços na Europa estão comprometidos. Discordo fortemente que a crise francesa seja uma crise europeia. Pelo contrário. Quem impede a Irlanda ou a Finlândia de terem robustez económica? Irlanda ou Estónia são livres de não adoptar o modelo francês. Além disso, não existe harmonização social ou fiscal na UE, portanto o facto de haver países que introduzem reformas eficazes torna-se mais uma razão para outros Estados tentarem adoptar medidas semelhantes ou, no mínimo, estudarem o assunto. A Europa é suficientemente flexível para permitir experiências distintas. A França, estando integrada num conjunto onde existe um arco de países com grande pujança, estará obrigada a fazer as reformas que considerar necessárias, mas numa dose que ninguém lhe pode impor.