quarta-feira, janeiro 02, 2008

Pelo sonho é que vamos?


Numa primeira leitura, parece que José Manuel Fernandes tem razão quando hoje escreve que: «O cidadão comum (...) mais depressa se reconhece no país descrito por Cavaco do que no imaginado por Sócrates». No entanto, com base na minha experiência de trabalho para o PSD liderado por Marques Mendes, tenho dúvidas que assim seja.
Na altura, confrontámos diversos «cidadãos comuns» (aquilo a que se chama na gíria focus groups) com dados e factos sobre o verdadeiro estado em que se encontrava o País nas suas diferentes áreas: Educação, Emprego, Saúde...A reacção das pessoas, repartidas por diversas ocupações e de diferentes idades, foi idêntica e transversal: Não lhes apetecia ouvir, não queriam saber, rejeitavam a realidade e preferiam uma abordagem «pela positiva». «Estamos fartos de ouvir dizer que isto está mal», bradavam. «Queremos soluções», exigiam.
Ora é legítimo que assim seja e compreensível que os portugueses estejam fartos da mera troca de galhardetes e saturados da crítica pela crítica, do soundbyte pelo soundbyte e pelo título dos jornais no dia seguinte. Mas dá que pensar esta resistência ao diagnóstico da realidade. Em especial sabendo como é difícil apresentar alternativas quando o palco que seria mais privilegiado para o fazer é, para os mesmos portugueses, um espaço de verdadeira anulação dos conteúdos. Ao longo do mesmo período de trabalho, verificámos que o Parlamento é, para o tal «cidadão comum», um não-lugar. Por melhor que seja a alternativa apresentada, se for transmitida no cenário da Assembleia perde praticamente toda a eficácia junto dos seus destinatários finais.
Qual é, então, a solução? O que querem afinal os portugueses? Preferem o sonho socrático ou a realidade de Cavaco? Depois de terem apertado o cinto em resposta a um Durão Barroso que os abandonou, que promessas estão ainda dispostos a ouvir? E mais ainda: Em que acções concretas estão motivados a participar?
Cavaco não apresentou soluções no seu discurso, nem esse era o seu papel. Tal tarefa compete a Menezes e aos restantes líderes da oposição. Se pretendem apresentá-las com eficácia deixo aqui a receita, difícil quanto baste: Pensem «fora da caixa», surpreendam para galvanizar, sustentem a crítica com sugestões positivas, deixem-se de agendas unicamente movidas pela disputa de palco mediático. Caso contrário, é pelo sonho que continuaremos a ir. Para pesadelos, já demos mais do que o suficiente.