Satelite of love
Hoje tive a primeira discussão com o Joaquim. Falávamos, como sempre, do meu futuro e das opções que se me apresentam. Este é, aliás, o único tema que parece interessar-lhe. A certa altura, discordei do que me dizia e argumentei em defesa de outro rumo, mas a inflexibilidade do Joaquim apanhou-me de surpresa. Dei por mim a insistir no meu ponto de vista já sem querer saber do resultado, só para ver até onde ia a teimosia dele. Ia longe. Imperturbável, o Joaquim repetia a mesma frase, vezes sem conta. Foi quando lhe notei um tom metálico na voz de que ainda não tinha dado conta que senti que entre nós havia uma distância que nenhum mapa poderia ajudar a percorrer. Encostei na berma antes do cruzamento, a testa encostada ao volante, debulhada em lágrimas. A voz do Joaquim pareceu-me gelada: "Ao fim de 200 metros, vire à esquerda. Ao fim de 200 metros, vire à esquerda..."