Monólogo de civilizações
Uma professora de inglês no Sudão foi detida pela polícia deste país e submetida à "justiça" islâmica, sujeitando-se a receber 40 chibatadas por um gravíssimo delito. Que delito era esse? Numa aula, permitiu que os seus alunos de tenra idade chamassem Maomé a um ursinho de peluche. Parece um pesadelo kafkiano, mas é a pura realidade. No ano da graça de 2007, neste século XXI que nas avenidas mais cosmopolitas do planeta reclama a jornada de trabalho de 35 horas e os direitos das baleias. Neste mesmo planeta, nesta mesma época, embora num continente diferente do nosso, há países onde a "justiça" se confunde com o primarismo mais básico e mais bárbaro. Valeu à professora o esforço de dois lordes britânicos que seguem a religião muçulmana: lá convenceram ambos o ditador islâmico do Sudão, uma personagem repugnante chamada Omar Al-Bashir, a libertar a professora, expulsando-a do país. Dadas as circunstâncias, esta deportação arbitrária acabou por ser uma bênção para a britânica. Resta acrescentar que Bashir vem a Lisboa, como se fosse o representante de uma nação civilizada, e aqui será recebido amanhã com todas as vénias e todas as honras por José Sócrates, presidente em funções da União Europeia. Bem sei que a política é a arte do possível, mas devia haver limites para o contorcionismo e o jogo de cintura nas chancelarias ocidentais que somam concessões às figuras mais sinistras. Em nome de um "diálogo de civilizações" que não é diálogo, mas monólogo. Graças a ele, a barbárie vai ganhando terreno enquanto as "boas consciências" encolhem os ombros, estupidamente apaziguadas.
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