domingo, dezembro 30, 2007

Cinema Nostalgia (22)


Através das nossas mães e avós começámos a ingerir esses enredos em doses regulares, não raro antes de pegarmos no sono. Daí que os nossos sonhos acabassem muitas vezes por se confundir com eles, formando um todo contínuo com alguma coerência. As histórias de encantar são uma espécie de testemunho que passa entre gerações e que no caso específico das mulheres serve de sedimento a uma subcultura. A das fadas, dos príncipes e das princesas, onde os papéis de cada um estão bem definidos, a começar pelo nosso que é, naturalmente, de grande responsabilidade, ou não fosse o principal.
A trabalheira que nos dá demarcarmo-nos depois de todos aqueles estereótipos e aceitarmos as nossas imperfeições! Não sei o que acontece com os homens, mas no nosso caso creio que nunca nos chegamos a libertar inteiramente de certas fantasias. O que há mais para aí é donzelas na eterna busca do príncipe encantado e cinderelas à espera de redenção. O cinema percebeu isso bem demais e em todas as épocas nos serviu histórias cuja matriz é sempre a mesma e que não por acaso foram êxitos de bilheteira. Não desfazendo no desempenho de Julia Roberts, não tenho dúvidas de que o segredo do sucesso de Pretty Woman (Um Sonho de Mulher) é o facto de consistir numa versão revista e apimentada da Gata Borralheira.
Lembram-se de Uma Mulher de Sucesso (no original, Working Girl) com Melanie Griffith? À medida que a via e voltava a ver fui-me interrogando sobre o fascínio que essa comediazinha de Mike Nichols exercia em mim, até que um dia percebi: é claro, ver aquela loirinha frágil penar e no final triunfar no mundo da alta finança faz-me disparar a adrenalina.
O síndrome da Cinderela está presente em numerosos filmes, todos com êxito assinalável e se alguns pouco ou nada valem como obras cinematográficas, outros conseguem fazer o pleno: juntar a magia das histórias de encantar à magia da tela. E esses acabam na categoria particular dos filmes da nossa vida. Exemplos? Tenho vários: My Fair Lady, o meu musical favorito; Sabrina (na foto) e a reinar sobre todos esses... Boneca de Luxo (Breakfast at Tiffany’s), de que o Pedro já aqui falou. Ser salva por aquele príncipe (George Peppard) em plena Nova Iorque, debaixo de chuva e junto aos caixotes do lixo revolucionou em definitivo o meu conceito de romantismo. Desde então nunca mais consegui sentir o mesmo élan na derradeira cena do sapatinho de cristal no clássico da Disney A Gata Borralheira que serviu durante tantos anos de referência às minhas fantasias românticas...

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