sábado, dezembro 29, 2007

Julgam que eu não sei?


Aparentemente está tudo igual. O vaivém dos carros em tarde de sábado, o semblante dos transeuntes meio fechado mas com a atenção saudavelmente fixa em questões de ordem prática: o semáforo para os peões, os títulos dos jornais no quiosque, ou o “presente” que o cão do prédio em frente ainda há pouco largou no passeio e que é preciso contornar.
Mas hoje é dia 29 de Dezembro e a mim não enganam. Toda esta gente pratica há anos o mesmo ritual. É coisa que se começa a enraizar desde a adolescência, que é a fase em que todos nos estreamos nestas actividades e depois torna-se difícil perder o hábito. Ainda que vagamente, quase por distracção, lá estamos nós a fazer as contas. A contas connosco. E não adianta tentar fugir ao lugar comum. Os nossos pensamentos são movediços e acabam por se deixar arrastar pela corrente. Os jornais são os primeiros a dar o tom, de modo que torna-se inevitável: a seguir ao Natal fechamos para balanço. Receitas e despesas, perdas e danos. A nossa vidinha – que estupidez – passada em revista por imperativos de calendário.
Olha para aqueles, a ver montras. E aquela ali a falar ao telemóvel, toda descontraída. A fazer que estão distraídos da vida. Julgam que eu não sei?