As nossas caixas
Descobri na minha caixa de recordações - aquela que escondia, há 10 anos, estrategicamente da minha mãe, mas que agora ficou no meu antigo quarto - cartas recebidas, poemas escritos, desenhos que representam dias, anos, lugares, momentos. Curioso como as coisas mudam. Parece que, de há uns anos para cá, a minha mãe pode saber e vasculhar, se quiser, aquilo que eu tinha de mais precioso, na altura. Parece que agora não faz sentido trazer o passado para o presente dentro de caixas. Às vezes, também penso se a estabilidade emocional nos corta a inspiração e amarra as mãos para qualquer poema que teima em não nascer. Mas, a ver pelo João Villalobos, isso não é uma regra.
Apeteceu-me deixar aqui uma das folhas que lá se encontram.
Apeteceu-me deixar aqui uma das folhas que lá se encontram.
É tão bom abrir algumas caixas.
«Nunca sei quando as carícias provocantes das pontas dos meus cabelos voltam a roçar o teu rosto indefinido.
Nunca sei quando o vento, o calor e o frio se encontram e desencontram nos nossos corpos.
Nunca sei quando a timidez tem tempo para ser vencida, nem quando volto a ver as luzes sempre diferentes que nos iluminam, mas igualmente tímidas.
Nunca sei quando tem início o jogo de reflexos, nem o novo dia, para que me encontre fascinada pelo prazer do toque, do tacto, como um cego que lê braile pela primeira vez.
Nunca sei quando o sol da noite me volta a abrilhantar o caminho até ti, até nós, nem quando a lua me pintará com cores vivas e fulvas.
Nunca sei quando os teus olhos voltam a ser a catedral de granito na qual me confesso sempre que a minha boca vai de encontro aos teus lábios.
Nunca sei quando irei olhar as estrelas e enviar-lhes aquele sorriso beatífico, audível e inacabável que adquiro antes, durante e depois de te ter olhado, de nos termos sentido.
Nunca sei qual vai ser a porta que tu vais abrir e que vai ser a ponte para a nossa saudade se afundar num abraço.
Nunca sei quando volto a escutar a noite mais silenciosa e ousada.
Nunca sei quando voltas a filtrar a luz dos meus olhos, pelos teus olhos, nem quando as palavras e os sentidos se namoram e se escondem, com aquela ingenuidade e ternura quase infantis, por detrás de nós.
Nunca sei quando é possível que as flores que decoram o céu assistam a este entrelaçar de sentimentos, depositado na união de duas mãos.
Nunca sei quando volto a ter memórias porque nunca sei quando voltas».
Nunca sei quando o vento, o calor e o frio se encontram e desencontram nos nossos corpos.
Nunca sei quando a timidez tem tempo para ser vencida, nem quando volto a ver as luzes sempre diferentes que nos iluminam, mas igualmente tímidas.
Nunca sei quando tem início o jogo de reflexos, nem o novo dia, para que me encontre fascinada pelo prazer do toque, do tacto, como um cego que lê braile pela primeira vez.
Nunca sei quando o sol da noite me volta a abrilhantar o caminho até ti, até nós, nem quando a lua me pintará com cores vivas e fulvas.
Nunca sei quando os teus olhos voltam a ser a catedral de granito na qual me confesso sempre que a minha boca vai de encontro aos teus lábios.
Nunca sei quando irei olhar as estrelas e enviar-lhes aquele sorriso beatífico, audível e inacabável que adquiro antes, durante e depois de te ter olhado, de nos termos sentido.
Nunca sei qual vai ser a porta que tu vais abrir e que vai ser a ponte para a nossa saudade se afundar num abraço.
Nunca sei quando volto a escutar a noite mais silenciosa e ousada.
Nunca sei quando voltas a filtrar a luz dos meus olhos, pelos teus olhos, nem quando as palavras e os sentidos se namoram e se escondem, com aquela ingenuidade e ternura quase infantis, por detrás de nós.
Nunca sei quando é possível que as flores que decoram o céu assistam a este entrelaçar de sentimentos, depositado na união de duas mãos.
Nunca sei quando volto a ter memórias porque nunca sei quando voltas».