segunda-feira, outubro 22, 2007

Os crânios de Bruxelas decidem por nós

Temos tratado. O Tratado de Lisboa – como passaram a chamar-lhe, com manifesto orgulho, os repórteres televisivos presentes no Parque das Nações, onde na quinta-feira decorreu a cimeira que pôs Portugal nas manchetes políticas. Não é um tratado constitucional, como garantem os exegetas da abracadábrica política bruxelense, mas apenas um tratado “reformador”, que por sinal mantém 96 por cento do texto contido na mini-Constituição “europeia”, chumbada pelos eleitores franceses e holandeses. A reunião de Lisboa serviu para aplicar uns pós de cosmética no texto e tudo seguir em frente, desta vez sem a necessidade de consultar os cidadãos, através de incómodos referendos, que costumam ter resultados imprevisíveis.
O que cai neste tratado? Só uma simbologia formal, relacionada com o hino (que mesmo assim continua a ser tocado, e ainda bem, pois é um prazer ouvir Beethoven), com a bandeira (que continua a ser hasteada em todos os edifícios oficiais) e com a designação do ministro “europeu” dos Negócios Estrangeiros, que passa a chamar-se “alto-representante”. Mantém-se quase tudo o resto. Haverá um presidente “europeu” fixo, que poderá exercer funções durante cinco anos. A regra da maioria qualificada sobrepõe-se à da unanimidade nas decisões tomadas pelo Conselho Europeu. Abandono do princípio de um comissário europeu por cada Estado-membro. Etc, etc. A diferença é só de designação. Mas já não precisaremos de decidir: os crânios da super-estrutura dirigente decidiram e decidirão por nós.

Etiquetas: