terça-feira, setembro 18, 2007

Fora de série (1)


À medida que a Internet foi entrando, a televisão foi saindo. Não há originalidade nisto. É um sinal dos tempos e só Deus sabe (bom, Deus e alguns colegas e amigos) quanto lutei contra a invasão das novas tecnologias na minha vida. Tudo isto para dizer que é difícil, nos tempos que correm, manter-me fiel a uma série de televisão. É uma prisão, uma preocupação, não tem a elasticidade da Net, nem a portabilidade de um livro. A última série que me amarrou à cadeira e me fez adiar compromissos foi Os Sopranos. Até do tema do genérico eu gostava e se há coisa que eu odeio é rap...
A moral da máfia, em que me iniciei com a trilogia de O Padrinho, voltava a fascinar-me. Acho que me deixei seduzir pelo Tony Soprano como Jennifer Melfi, a sua psicanalista. James Gandolfini, no papel da sua vida, entrava-me em casa todas as semanas, tão vulnerável quanto brutal e eu, durante o tempo que durava cada episódio, suspendia de boa vontade a minha vida para viver a dele e surpreender-me com as minhas próprias contradições: Como é que eu podia sentir simpatia por um assassino?
Tecnicamente próxima da perfeição, a série criada por David Chase é claro que transcendia o mundo da mafia. Para além das actividades da "rapaziada", acompanhávamos a evolução daquela família disfuncional a vários títulos tão representativa de uma certa América e as inesquecíveis sessões de terapia de Tony, na minha opinião a componente de charme da série. O New York Times considerou-a "provavelmente a melhor obra da cultura popular americana dos últimos 25 anos".
Este domingo Os Sopranos receberam mais três Emmys. Desde 1999, o ano da sua estreia, foram distinguidos com 18 Emmys e nomeados 111 vezes. Terão comprado os votos? Com a máfia nunca se sabe... A mim devem ter-me drogado, porque na verdade, viciei-me. Se tivesse psicanalista discutia isto com ela: acho que tanta dependência se ficou a dever sobretudo a essa empatia que eu criava com Tony à minha própria revelia. Durante 50 minutos por semana perdoar ou compreender aquilo que no meu perfeito juízo só poderia rejeitar veementemente era como dar uma voltinha na montanha russa e cheia de adrenalina gostar de ficar a ver tudo de pernas para o ar...

Enfim, uma coisa é certa: quando o telefone tocava à hora dos Sopranos eu nunca estava. E se alguém me forçasse mesmo a interromper, era bem capaz de levar um tiro no meio dos olhos. Só para aprender que às vezes comigo não se brinca.

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