terça-feira, agosto 21, 2007

Um Governo sem ninguém ao leme

Uma das coisas que mais me espanta no caso da Herdade das Lameiras é o completo desnorte político que, em dois ou três dias, este Governo deixou vir à tona. O problema desencadeado com a invasão de uma propriedade privada por uma série de anarco-ecologistas é bem mais grave do que à primeira vista se possa crer.
Primeiro, deixa à vista de todos que a jogada de José Sócrates, ao tirar António Costa do Executivo, foi, para além de arriscada, um autêntico flop estratégico. Para ter uma espécie de "mini-executivo socrático" na Câmara de Lisboa, desguarneceu o Governo de Portugal, ao amputá-lo do seu número dois. Ao retirar o ministro de Estado e da Administração Interna do Governo, substituindo-o por essa nulidade política chamada Rui Pereira, Sócrates deu o flanco, como agora se provou. Com o primeiro-ministro algures de férias, e sem número dois, o Governo dividiu-se em duas frentes, uma comandada pelo infeliz Pereira e outra pelo desnorteado Jaime Silva, ministro da Agricultura.
Só para se ter uma ideia, ontem o disparate político atingiu o auge. Jaime Silva foi visitar a herdade que foi invadida, acompanhado pelas televisões e pelo proprietário - que entretanto sofreu um AVC por causa do episódio - e acaba o passeio a atacar o Bloco de Esquerda, em vez de propor medidas imediatas para ressarcir o senhor dos danos que lhe foram causados. À noite, Rui Pereira, num esforço inglório para amparar a queda, vai à SIC Notícias explicar a posição do MAI. E, perante a insistência de Mário Crespo, entra no dislate. Da boca do ministro ouvi coisas como: não se pode intentar com nenhuma acção contra os manifestantes, pois o crime é semi-público e não houve queixa formal; não é grave só terem sido identificados seis dos cento e tal manifestantes, porque afinal são "os porta-vozes"; e ainda que há gente para tudo, até para defender animais e atacar pessoas. Isso mesmo, quem diria. Um ministro que fala assim, é o quê?
A segunda parte do problema é uma dúvida que me assola, desde ontem: como é possível Jaime Silva, membro de um Governo de maioria PS, ter atacado como atacou o líder do BE, Francisco Louçã, e a coligação para a Câmara de Lisboa ainda estar de pé? Ainda há quem se queixe das novelas da Globo não terem concorrentes à altura...