segunda-feira, agosto 20, 2007

Cavaquês

"Portugal tem um problema orçamental e deve corrigi-lo o mais depressa possível"; "é preciso gerir com muita eficiência e rigor os recursos disponíveis".
Aníbal Cavaco Silva sobre a necessidade de correcção do défice.

"A violação de propriedade privada é uma violação da lei e espero bem que as autoridades competentes não deixem de fazer as investigações necessárias"; "não pode restar quaisquer dúvidas de que lei em Portugal é para ser cumprida e quem tem o poder para a fazer cumprir não pode deixar de utilizá-lo".
O Presidente da República, sobre a invasão da Herdade da Lameira.

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Estas duas declarações, verdadeiramente determinantes no momento em que são produzidas, revelam mais uma vez um Presidente da República diferente da análise de alguns comentadores. Cavaco Silva pode falar pouco, mas quando fala marca a diferença. Não dá ponto sem nó. Faz por ser decisivo. Se pontuasse as suas intervenções como fez Mário Soares tornava-se repetitivo, interveniente em demasia, incomodativo até. Se fizesse da sua prática discursiva o que Jorge Sampaio fez, tornava-se monótono, circular e pouco objectivo. O "cavaquês", ao contrário do "sampaiês" ou do "soarês" (ou devo dizer "suaréz"?), é directo, perceptível e com um objectivo central: o de obter resultados.

Ao ter dito o que disse sobre a infeliz invasão da Herdade das Lameiras, Cavaco Silva quis deixar claros dois pressupostos. Primeiro, é preciso que se investigue como foi possível aquela invasão, acompanhada de câmaras de televisão, acrescento. Se lá estavam, é porque foram avisadas e porque a invasão estava a ser programada há muito. Ou seja, se as televisões sabem, a GNR também já deveria saber. Logo deveria ter actuado antes do acontecimento, de forma a evitá-lo.

Ponto dois: quando o PR diz que quem é detentor do poder deve saber "utilizá-lo", está subjacente, para mim, um mais que óbvio puxão de orelhas. A autoridade é para ser exercida, com responsabilidade.
Assim, de repente, apetece-me lembrar a quem anda distraído que o Presidente da República, só nos últimos tempos, vetou o novo Estatuto do Jornalista, a lei das incompatibilidades da Madeira voltou para trás e ainda teve dúvidas sobre o acesso do fisco às contas dos particulares. Quem disse que Cavaco Silva está quieto e calado?