Na morte de Umbral (1)
Habituei-me, durante anos, a comprar El Mundo por causa das crónicas de Francisco Umbral: era obrigatório começar a ler o jornal pela última página, onde o escritor tinha há quase 18 anos a sua coluna Los Placeres y los Dias. "O prazer da leitura" - essa expressão que Bárbara Guimarães transformou em lugar-comum - tinha aqui pleno cabimento: Umbral dava prazer aos seus leitores (mesmo aos que discordavam dele) com o seu estilo mordaz, irónico, inconfundível. Era, a um tempo, moderno e clássico. Tanto se perdia por saborosíssimas digressões nostálgicas como abordava as mais quentes questões da actualidade. Sempre com uma voz própria, inimitável. Ele, que não era fértil em elogios, certa vez elogiou Camilo José Cela por saber "escrever vivendo e viver escrevendo". Poder-se-ia dizer o mesmo deste amante de charlas e tertúlias que "elevou a coluna de jornal a um género literário", como bem assinalou Pedro J. Ramírez, director de El Mundo. O mesmo que já tinha acontecido, no Brasil, com Rubem Braga e Nelson Rodrigues - género hoje prolongado por Luís Fernando Veríssimo e Arnaldo Jabor. Nada encontramos de semelhante na imprensa portuguesa.
Francisco Umbral morreu. Foi a pior notícia deste mês, uma das piores notícias deste ano.