quarta-feira, agosto 29, 2007

Basta de paprika


Quantas vezes, na Hungria, eu e o Luís Naves recordámos com estima o nosso FAL. Pensávamos que ali ele viveria feliz. Cansado, porventura, mas feliz. A paisagem humana convidava a um périplo constante e deslumbrado. Apesar do calor de Agosto, as raparigas pareciam embalagens daquelas pré-congeladas, vistosas e coloridas, mas imprestáveis antes de aquecidas durante alguns minutos no micro-ondas.
Antes de partir, alguém me avisara que levava «areia para a praia». Outro – repleto de sabedoria arcana – lembrou o ditado «para a Hungria não leves companhia». Quando atravessámos um pequeno jardim onde dezenas de estónias despiam antes da festa os seus collants, numa apressada mudança de roupa para qualquer traje típico do seu país, parecia sexta-feira. Quando, sentados nas esplanadas, virávamos o pescoço para a esquerda e a direita e, na maior parte das vezes, para cima, num movimento espiralado capaz de dar um torcicolo duplo ao mais flexível instrutor de yoga, era sexta-feira outra vez. E no entanto…
Ao regressar, ao ver as nossas portuguesas, ao conseguir de novo vislumbrar sorrisos nas inocentes trocas de olhar que são o alimento da alma para qualquer praticante compulsivo do flirt como eu, ao vê-las descontraídas, bronzeadas, suspirei de alívio. Não sou por natureza contemplativo e muito menos adepto de refeições rápidas. Em todos os desportos que pratiquei, sempre detestei a fase de aquecimento. Pode ser que na Hungria seja sempre sexta-feira. Mas, se lá voltar, irei de novo acompanhado. Aquela não é a minha praia.

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