quarta-feira, junho 13, 2007

Soares cerca Sócrates (1)

A recente entrevista de Mário Soares à revista do Expresso é significativa por vários motivos. Sobretudo pela distância que o fundador do PS traça em relação a José Sócrates – o que acontece pela primeira vez desde a eleição presidencial de 2006. Criticando Tony Blair – modelo político de Sócrates – Soares aproveita para se demarcar também do primeiro-ministro português. “Sabe a opinião negativa que sempre tive de Blair. Por isso não gosto. E já lho disse", responde Soares quando as entrevistadoras (Cândida Pinto e Clara Ferreira Alves) lhe perguntam “o que acha” de termos “um primeiro-ministro que diz ter honra em ser comparado a Tony Blair”.
Mas há mais. “Eu não conhecia bem Sócrates antes da última campanha presidencial. Fui para a campanha com um conhecimento mínimo do actual partido. (...) Fiquei com respeito e amizade por ele. Mas há coisas que me desagradam nele. Somos muito diferentes, com culturas e formações diferentes. É natural. Quando ele se disse próximo de Blair fiquei, confesso, chocado. Gostaria mais que tivesse outras referências.”
Foi pena as entrevistadoras não lhe terem perguntado quais são as coisas que lhe desagradam nele. Mas Soares, sem papas na língua, lá se encarregou de levantar uma ponta do véu: “Nem sempre explicou bem as medidas tomadas. Certos ministros não funcionam bem. Cometem erros.” O ex-Presidente da República recusou explicitar os nomes dos ministros que “não funcionam bem”. Mas lá prosseguiu as suas críticas: “Em dois anos de Governo, Sócrates acumulou demasiadas más vontades. Na classe média, no povo, no seu eleitorado tradicional. É tempo, julgo, de corrigir o rumo, pensando mais à esquerda.”