sábado, junho 02, 2007

Dilema da paixão consumista

A filosofia da felicidade que Gilles Lipovetsky ontem apresentou em Lisboa vem revelar-nos que estamos submetidos a uma violenta paixão consumista - o hiper-consumo. "Hoje em dia, somos livres de escolher as nossas actividades de lazer, mas estamos cada vez mais sob o império da oferta comercial. Somos livres ao nível dos pormenores, mas o mercado ganhou um poder sem precedentes na vida de cada um e sobre a maneira de concebermos a felicidade em termos do dia-a-dia. Neste dilúvio de convites a desfrutar da vida, a distância entre a felicidade que nos é prometida e o real, o quotidiano, é cada vez maior. E essa glorificação da felicidade provoca problemas existenciais".
Nesta análise, o que é criticável não é consumir, "é o facto de se viver apenas para consumir". Por isso, diz, "o que é preciso corrigirmos é o lugar que o consumo ocupa nas nossas vidas, fazendo-o em nome de uma ética da pessoa e não da felicidade". E, eis a solução proposta por Lipovetsky: "só uma outra paixão poderá permitir reduzir a paixão consumista; temos de inventar uma pedagogia das paixões, capaz de mobilizar os afectos fora do consumível, da compra: no trabalho, no desejo, na criação, na arte. Temos de criar uma ecologia mais equilibrada da existência. O crucial é que as satisfações aconteçam fora dos paraísos passageiros do consumo". Será mesmo possível?