Quando a direita muda de pele
A crise de credibilidade que há um mês afecta José Sócrates fez accionar o velho instinto de poder na direita portuguesa, que está em plena fase de recomposição. Começou no CDS, vai prolongar-se no PSD. Quem supunha que bastava esperar por 2009 para dar passos em frente, teve de alterar os planos. O tom dramático do último jantar de aniversário socialista veio confirmar que a instabilidade voltou à política portuguesa. O PS mantém maioria absoluta no Parlamento, mas está menos sólido e menos consistente. Daí as inevitáveis mudanças que estão a registar-se à direita – e que poderão ser muito mais vastas do que alguns imaginam. Acabou a oposição a fingir, vem aí a oposição a sério. Com um possível realinhamento de toda esta ala política. Os tradicionais estados-maiores partidários deixaram de ter a importância que tiveram: veja-se a ascensão em França de Nicolas Sarkozy, que venceu a eleição presidencial contra os barões da direita – a começar no presidente Chirac, que provavelmente nem votou nele. É a esta luz que deve ser interpretado o fim do velho CDS às mãos de Portas. E também o ciclo de convulsões internas que não tardará a estourar no PSD após o escrutínio de Julho em Lisboa. Quando o cheiro a poder começa a tornar-se intenso, uma certa direita vai até onde for preciso: pode até vender a alma. Embora numa primeira fase lhe baste mudar de pele.