A polémica
O governo está (e bem) a aprovar uma lei que impede o fumo de tabaco em lugares públicos. Esta é uma questão de puro bom senso e foi com espanto que ouvi alguns comentários contrários à iniciativa, com uso de argumentação verdadeiramente absurda. Segundo um desses argumentos (que ouvi na TV sem que alguém desatasse às gargalhadas) passava a ser mais fácil uma pessoa drogar-se do que fumar, o que não resiste a cinco segundos de raciocínio.
Num plano mais racional, os comentadores têm sublinhado o carácter "anti-liberal" da lei e dizem que os não fumadores estão a impor a sua forma de vida aos fumadores, pelo que devia ser permitido a bares e restaurantes escolherem se há ou não fumo no estabelecimento, como acontece em Espanha.
Parece-me evidente que se houvesse liberdade de escolha, a situação não mudaria. Aliás, em Espanha, todos os lugares públicos optam por permitir o tabaco, pois essa é a boa lógica económica. A clientela de determinado estabelecimento tem fumadores e não fumadores; os primeiros fumam e os segundos não se incomodam o suficiente para não frequentarem o lugar. Se o restaurante ou bar optar por ser para não fumadores, perde o primeiro segmento e não ganha o segundo, pois há sempre um bar ao lado para fumadores. Em resumo, na aparência de ser liberal, a lei espanhola cede ao lóbi do tabaco, lançando o problema para debaixo do tapete. Os lugares sem tabaco serão sempre minoritários.
Ao contrário do que dizem muitos comentadores, o que tem acontecido em Portugal é esta imposição do estilo de vida dos que fumam a todos os que não fumam, devido a hábitos sociais profundos e a uma tradição errada. E, pela primeira vez, a lei vai proteger os não fumadores.