Irish do it with the lights off
É assombroso que a Irlanda tenha visto nascer no seu seio escritores tão geniais como Joyce, ou Beckett. Talvez porque escrevessem em casa, no recato do lar. Em Portugal, no entanto, não importa a hora em que abrimos um livro, uma revista ou um caderno num bar irlandês. Inevitavelmente, as luzes reduzem-se até à fronteira do apagão. É como se existisse um alarme contra incêndio mas os «Murphys» fossem todos bombeiros do «Fahrenheit 451», o livro escrito por Ray Bradbury e tão bem adaptado por François Truffaut. Os irlandeses, custa-me dizê-lo, são os Mc Donalds dos pubs. Odeiam quem lê porque, deduzem eles, um sujeito propenso à leitura não abandona tão cedo a mesa onde se sentou o que, desde logo, é mau para a facturação (Ou isso, ou há uma máfia de oftalmologistas irlandeses no nosso País cuja existência desconheço). Paradoxalmente, adoram conversas intermináveis sobre temas estúpidos e ecrãs gigantes com desafios de futebol...Se não os conhecesse melhor, diria que são simplesmente atrasadinhos. Mas a sua cultura e capacidade de destilação tornam esse juízo impossível. Assim, limito-me a chamar-lhes tacanhos. E só não aumento a lista de adjectivos porque não consigo, a esta hora, ver o que estou a escrever. Já sou míope quanto baste.