Tantos anos de televisão
A televisão fez ontem meio século em Portugal. Lembro-me daquela caixa de madeira escura e polida que depois de largos segundos a aquecer as “válvulas” se acendia numa brilhante paleta de tons cinzentos. Lá em casa, um histérico chamamento (que soava qualquer coisa como “DESANIMADOS!!!”) interrompia quaisquer que fossem as nossas actividades e punha-nos aos cinco irmãos numa correria para um bom lugar em frente ao aparelho. Este momento mágico decorria ao final da tarde quando a generosa RTP nos presenteava com um ou dois “cartoons” do Pica-pau, do Super Rato, ou, com sorte, do Perna Longa. Nesse tempo, quando em família assistíamos a um western na Noite de Cinema, era certa no dia seguinte a brincadeira com os "John Waynes" em correria no recreio da escola. E os festivais da canção, autênticos acontecimentos nacionais? Uns anos mais tarde, lembro-me bem da sensação de ir à mercearia durante a hora da novela, e ouvir ao longo da rua o genérico da Gabriela ecoando unânime e plurifónico, saindo de cada casa, de cada janela, a voz de Gal Costa: Eu nasci assim…
Recordo também com alguma saudade as emoções das noites eleitorais, que significavam uma "directa" autorizada e garantida com direito a ceia madrugadora. Fantásticas e tensas noites longas em que se jogava o futuro da nação com os votos e as freguesias em crescendo nos placards magnéticos. E o Eládio Clímaco. E depois, lá para a frente, indignávamo-nos com as reacções unanimemente vitoriosas por parte dos partidos contendores. Ao raiar da manhã, sob a ordem do meu pai, normalmente apreensivo com os resultados, desligávamos a TV já fervente, desvanecendo-se as imagens prateadas num decrescente alvo branco, emitindo um ligeiro e agudo silvo final.
A televisão tinha o seu lugar, que nunca era maior que o nosso: não dava mais de meia hora de desenhos animados por dia; o teatro à segunda-feira, o cinema à quarta, a tourada numa quinta, ao sábado os telediscos… a fórmula 1 e o Fittipaldi ao Domingo. Uma seca, diriam os meus miúdos.
Hoje, na era dos computadores individuais e dos canais temáticos, dificilmente a família se junta toda espontaneamente em frente ao ecrã. Por vezes alugamos um DVD consensual (?!), ligamos o amplificador e fazemos um serão familiar. (Com um pouco de pressão e chantagem ainda lêem uns romances, e certamente ainda sentirão atracção pelos clássicos – espero eu.)
A única televisão cá da casa, um elegante aparelho espetado na parede da sala, perde influência real. Só a mais pequena, com os seus “canais animados”, se lhe mantém fiel. De resto, os computadores com os YouTubes e Chats da vida, remetem os miúdos para os seus recantos isolados, para os seus mundos e fascínios. Desconfio que a televisão que hoje festejamos, além de ser outra, está a acabar. No futuro, será o “audiovisual interactivo”, qualquer coisa parecida com uma mistura de YouTubes, Blogues e Chats que veremos num ecrã individual. Cada vez mais personalizado, particular e… egocêntrico. Veremos.
Recordo também com alguma saudade as emoções das noites eleitorais, que significavam uma "directa" autorizada e garantida com direito a ceia madrugadora. Fantásticas e tensas noites longas em que se jogava o futuro da nação com os votos e as freguesias em crescendo nos placards magnéticos. E o Eládio Clímaco. E depois, lá para a frente, indignávamo-nos com as reacções unanimemente vitoriosas por parte dos partidos contendores. Ao raiar da manhã, sob a ordem do meu pai, normalmente apreensivo com os resultados, desligávamos a TV já fervente, desvanecendo-se as imagens prateadas num decrescente alvo branco, emitindo um ligeiro e agudo silvo final.
A televisão tinha o seu lugar, que nunca era maior que o nosso: não dava mais de meia hora de desenhos animados por dia; o teatro à segunda-feira, o cinema à quarta, a tourada numa quinta, ao sábado os telediscos… a fórmula 1 e o Fittipaldi ao Domingo. Uma seca, diriam os meus miúdos.
Hoje, na era dos computadores individuais e dos canais temáticos, dificilmente a família se junta toda espontaneamente em frente ao ecrã. Por vezes alugamos um DVD consensual (?!), ligamos o amplificador e fazemos um serão familiar. (Com um pouco de pressão e chantagem ainda lêem uns romances, e certamente ainda sentirão atracção pelos clássicos – espero eu.)
A única televisão cá da casa, um elegante aparelho espetado na parede da sala, perde influência real. Só a mais pequena, com os seus “canais animados”, se lhe mantém fiel. De resto, os computadores com os YouTubes e Chats da vida, remetem os miúdos para os seus recantos isolados, para os seus mundos e fascínios. Desconfio que a televisão que hoje festejamos, além de ser outra, está a acabar. No futuro, será o “audiovisual interactivo”, qualquer coisa parecida com uma mistura de YouTubes, Blogues e Chats que veremos num ecrã individual. Cada vez mais personalizado, particular e… egocêntrico. Veremos.