As duas Espanhas
«Division y crispación en el acto de inauguración del monumento del 11-M» - é este o título de uma excelente reportagem de capa hoje publicada no diário El Mundo. Uma reportagem que diz tudo sobre o estado de crispação existente em Espanha, quando faltam apenas dois meses para as eleições autárquicas. Rodríguez Zapatero e Mariano Rajoy cumprimentaram-se tão friamente que não olharam um para o outro nem trocaram uma palavra durante um fugaz aperto de mão ocorrido na inauguração do memorial ao bárbaro atentado de 11 de Março de 2004, em Madrid, que provocou 192 mortos. Uma deputada comunista e um seu colega do Partido Popular trocaram mimos dignos do Mercado do Bolhão. Entre os anónimos que assistiam, não faltou quem gritasse palavras insultuosas aos dirigentes dos dois principais partidos espanhóis. Alguém berrou «Viva a República» na presença da família real. No meio desta bagunça, voltam a ser ressuscitados os fantasmas da guerra civil. «As duas Espanhas» a que a extensa reportagem de Rafel J. Álvarez faz referência do primeiro ao último parágrafo. Esta crispação é uma «conquista» de Zapatero, que pôs fim a um consenso nacional de três décadas ao admitir negociar com os terroristas da ETA. O troco foi-lhe pago em sangue, a 30 de Dezembro, com mais um atentado mortífero da organização assassina que pretende a «independência» do País Basco. E desde então a estrela do dirigente socialista não pára de empalidecer. Nada que surpreenda quem acompanha com alguma atenção a política espanhola. O que continua a surpreender-me é o desinteresse das televisões portuguesas em relação ao que se passa tão perto de nós. Como se Madrid estivesse noutro continente e as correntes de ar no país vizinho não pudessem provocar sérios resfriados deste lado da fronteira.