Toca e foge
A vida de Sérgio Varella Cid cedo foi ditada pelas cartas. Não as do Tarot, mas as do Blackjack, também conhecido por 21. No Blackjack, podemos ganhar muito mesmo muito ou «rebentar». E o genial pianista - que aos 3 anos surpreendeu o pai transpondo uma passagem do Concerto Nº3 de Beethoven – rebentou com a vida e a carreira. O subtítulo desta biografia, aliás, explica-nos desde logo ao que vamos: Esta é «a história de um prodígio português que se perdeu». Sérgio Varella Cid perdeu-se a dobrar: Primeiro arruinando tudo na mesa dos casinos, depois desaparecendo em circunstâncias misteriosas no Brasil em 1981, talvez assassinado. Ou talvez não.
Contemporâneo de Sequeira Costa, Varella Cid nasceu em 1935. Neste livro, Joel Costa segue-lhe a vida desde a infância e resume inúmeras conversas com amigos, conhecidos e familiares na tentativa de traçar um retrato que se mantém até ao fim difuso. O retrato de um génio que não respeitava as regras, de um adicto e como tal efabulador da realidade, de um burlão que amava os prazeres da vida mais do que a estabilidade da sua família e dos amigos. Amigos esses que, mesmo enganados, ainda hoje e muitas vezes perante a estupefacção do autor, se mantêm fiéis a essa amizade e à sua memória.
A leitura é por vezes constrangedora. Interrogamo-nos sobre a razão que leva um homem com tudo para sobressair, para ser feliz, a destruir ele mesmo essa felicidade. Mas essa é a resposta do Milhão de Euros, a resposta para acabar com todas as paixões, sejam elas o jogo, o álcool ou as drogas. A vida de Sérgio Varella Cid foi assim porque ele era assim e não quis ou não soube deixar de o ser. No dia 11 de Março de 1965, o músico toca no Sheffield City Hall. Na sala ao lado, o barulho de uma banda perturba-lhe o concerto de piano. Chamavam-se Rolling Stones. Hoje, ainda por cá andam. Varella Cid não. Ou talvez sim. (A publicar na revista Blitz)
Contemporâneo de Sequeira Costa, Varella Cid nasceu em 1935. Neste livro, Joel Costa segue-lhe a vida desde a infância e resume inúmeras conversas com amigos, conhecidos e familiares na tentativa de traçar um retrato que se mantém até ao fim difuso. O retrato de um génio que não respeitava as regras, de um adicto e como tal efabulador da realidade, de um burlão que amava os prazeres da vida mais do que a estabilidade da sua família e dos amigos. Amigos esses que, mesmo enganados, ainda hoje e muitas vezes perante a estupefacção do autor, se mantêm fiéis a essa amizade e à sua memória.
A leitura é por vezes constrangedora. Interrogamo-nos sobre a razão que leva um homem com tudo para sobressair, para ser feliz, a destruir ele mesmo essa felicidade. Mas essa é a resposta do Milhão de Euros, a resposta para acabar com todas as paixões, sejam elas o jogo, o álcool ou as drogas. A vida de Sérgio Varella Cid foi assim porque ele era assim e não quis ou não soube deixar de o ser. No dia 11 de Março de 1965, o músico toca no Sheffield City Hall. Na sala ao lado, o barulho de uma banda perturba-lhe o concerto de piano. Chamavam-se Rolling Stones. Hoje, ainda por cá andam. Varella Cid não. Ou talvez sim. (A publicar na revista Blitz)