sábado, fevereiro 03, 2007

Elogio a dois políticos

1. FRANCISCO ASSIS
Manuel Pinho espalhou-se ao comprido em Pequim, recomendando o investimento chinês em Portugal pelos baixos salários que aqui se praticam e pelas reduzidas reivindicações salariais. Logo no PS irrompeu o habitual coro de yes-men procurando justificar o injustificável (as palavras de Pinho) para não desagradar a José Sócrates, que em momento algum desautorizou o seu ministro. Todos os socialistas procederam assim? Todos não: o eurodeputado Francisco Assis confirmou que sabe pensar pela sua própria cabeça, insurgindo-se contra as disparatadas palavras do titular da Economia. "As declarações do ministro foram muito infelizes. Na vida pública, e na vida política em particular, as palavras adquirem vida própria. E há coisas que não se podem dizer. Portugal não pode competir com base nos baixos salários. Essa perspectiva seria suicida. E os sindicatos não podem ser vistos como factores de atraso."
Assim falou Assis, quinta à noite, no programa da RTP O Estado da Nação. Num partido cada vez mais amorfo e submetido à vontade do chefe, é uma excepção que merece elogio rasgado.

2. ANTÓNIO FILIPE
O PCP, como é sabido, considera o Partido Comunista Chinês seu "irmão" em ideologia. Ainda recentemente Jerónimo de Sousa esteve em Pequim e foi recebido por aqueles a quem chama camaradas. Ninguém lhe escutou uma palavra a condenar a ditadura chinesa, que reprime os mais elementares direitos humanos, nem a verberar o capitalismo selvagem que por lá vigora sob o rótulo "comunista", cada vez mais ténue. Mas um deputado do PCP teve o desassombro de dizer isto: "Há coisas absolutamente condenáveis na China. Muitas coisas que não subscrevo, quer do ponto de vista político quer económico. A começar na aplicação da pena de morte."
Assim falou António Filipe, no mesmo programa do canal público (agora muito melhor moderado, pelo jornalista Carlos Daniel). Merece também o meu elogio. Até porque sei bem que não faltam admiradores da China nas fileiras do PCP.