sábado, fevereiro 03, 2007

Sinais de debilidade

O Laurentino queria ver o treino olímpico dos chineses e disse-me:
“Zé Nero, sempre achei que uma ou duas medalhas olímpicas podem esconder debilidades, mas temos de ir ver como funcionam estes chineses na preparação para os Jogos Olímpicos de 2008”.
Ao ouvir aquilo, o Vicente, que é do comité olímpico, pareceu um bocado aborrecido, mas consegui logo ali sanar o conflito. O Laurentino, um dos melhores e mais conhecidos secretários de Estado deste governo, só ficou com a lapela do fato um bocado amarrotada, mas não chegou a perder a compostura. O Vicente quer ganhar muitas medalhas e não se conforma com vistas curtas.
Os chineses treinavam num ginásio dos arredores, onde a segurança era apertada.
“Eu sempre disse que uma ou duas medalhas olímpicas escondem debilidades”, exclamou o Laurentino, ao ver todo aquela parafernália de guardas. “Tenho de avisar o Amado sobre este óbvio atentado à liberdade de Imprensa em geral e aos direitos humanos em particular”.
Concordei com o que dizia o Laurentino, porque detesto limitações à liberdade de trabalhar, sobretudo quando estou em viagens oficiais a convite de governantes. Estava ainda a preparar um plano de infiltração quando reparei que o Laurentino e o Vicente tinham desaparecido, ou antes, haviam detectado uma porta menos fechada. E avançaram.
Ao segui-los, deparei-me com o horrível espectáculo. Presos em enormes braços musculados que saíam da parede e que apertavam os seus pescoços, os meus dois amigos sufocavam. Aquilo mais parecia uma tortura chinesa, o que de facto era. O Laurentino já estava azul quando apareceu o treinador chinês, que mandou suspender o exercício. Os dois imensos braços largaram suavemente os dois pescoços.
O chinês pediu desculpa, explicou que aquele era um inovador método de treino e ficámos a saber que a China quer ganhar umas vinte ou trinta medalhas nos Jogos Olímpicos. À volta, o Laurentino sentenciou esta aventura: “Eu sempre disse que uma ou duas medalhas eram sinal de debilidade”. O Vicente, ainda abalado, concordou com o secretário de Estado.
*José Nero Fontão, em jovem, alimentou esperanças de uma medalha olímpica no salto acrobático

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