Iniciação à modernidade
Não deixa de ser uma experiência fascinante passar cerca de uma hora numa repartição pública. Digo isto para quem não está a olhar para o relógio, claro.
Determinada a resolver de uma vez só alguns problemas relacionados com a logística das delícias do lar, a mega-repartição da Loja do Cidadão é, de facto, o paraíso para o consumidor. Depois de tirar a ficha da ordem, sento-me ao lado de mais duas portadoras de facturas. A conversa aqui, à semelhança do que acontece em consultórios médicos, vai dar sempre ao mesmo: queixas (a minha úlcera é maior que a tua, pago mais impostos do que tu, olha aqui o inchaço no joelho).
Esquecendo-se por uns instantes dos problemas do contador, a mais velha contava à outra (que aparentemente tinha acabado de conhecer) a razão do luto. " Coitadinho do meu tio, adromeceu e ficou-se que nem um passarinho. Uma morte santa." Quem ficou satisfeita por sair daquele velório "municipalizado", fui eu, com o meu número a piscar. A menina aponta-me para uma caixa tipo multibanco ao lado de um poster de propaganda do Simplex e pasme-se, aquilo era uma máquina do demo. Põe-se o código de barras da factura sobre o leitor, enfiam-se as notas por uma ranhura, recebe-se o troco e já está a factura paga. Sem dor.
Entretanto, já se tinha aproximado um cavalheiro com ar entendido. Desconfio que foi confirmar se eu tinha saloia escrito na testa.