Figura internacional do ano
Jack Bauer. Pode um agente da "secreta" americana, personagem de ficção, merecer esta distinção? Claro que sim. Primo, porque a diferença entre ficção e realidade, na cena política contemporânea, é cada vez mais ténue. Secondo, porque uma série televisiva com distribuição planetária como 24 - em que Bauer, brilhantemente interpretado pelo actor Kiefer Sutherland, é a figura dominante - explica melhor certos bastidores da hiperpotência do que uma centena de telediários ou um milhar de editoriais. E também porque Bauer é "um herói do nosso tempo", na definição irónica e certeira que lhe atribuiu Mario Vargas Llosa num emblemático artigo do El País. Um homem destes dias pós-11 de Setembro, em que parece valer tudo em nome do combate ao terrorismo. Mesmo a utilização de métodos simétricos aos dos criminosos cujo passo se pretende travar. E na vida real não será assim? Nestas alturas lembro-me sempre de uma frase de Paul Auster: "A verdade é mais estranha que a ficção."