As causas de Ana Gomes
Ana Gomes é uma personalidade que me merece simpatia, atendendo sobretudo à notável defesa da liberdade do povo timorense que sempre abraçou, mesmo quando a maré da diplomacia portuguesa – lamentavelmente – não era favorável a esta causa. Descontando algumas questões de estilo, subscrevo no essencial o que a eurodeputada socialista aqui expressou, incluindo a sua afirmação de que o ex-ditador iraquiano “foi um dos mais cruéis torcionários do século XX”. Estou cem por cento com ela na convicção de que “a pena de morte nunca pode ser justa”. Só não entendo como é que uma pessoa que se indigna desta maneira contra o enforcamento de Saddam Hussein – e certamente não se indignou mais do que eu – seja a mesma que há menos de um mês confessou a vontade de abrir uma garrafa de champanhe ao morrer outro ditador. É certo que Augusto Pinochet faleceu na cama, e não na forca – como aliás sucede à imensa maioria dos ditadores. Mas nenhuma morte de nenhum indivíduo nos deve encher de júbilo. Se amanhã a cabeça de Ossama bin Laden for servida a George W. Bush numa bandeja ninguém me verá abrir garrafas de champanhe. Se alguma superioridade moral podemos ter perante déspotas e assassinos, é esta. Apenas esta. Mas que estabelece uma diferença do tamanho do mundo.