As bruxas
Não há muitos anos, para mim e para a rapaziada daquela obscura época, “bruxa” era uma figura feia, malévola e às vezes assustadora. Quando eu era pequeno, chamar “bruxa” era um insulto muito eficiente para “taquinar” qualquer das minhas queridas irmãzinhas. Sim, bruxa de vassoura na mão com unhas compridas e sujas, cabelos desgrenhados, furúnculo no nariz, vestido preto e chapéu de bico. A imagem mais benevolente do género era a das parceiras Maga Patológica e Mme Mim que juntavam a todos os defeitos o facto de serem desastradas, embirrentas, feias, más e queixinhas. Pior, mais horrenda e má que a bruxa da Branca de Neve, só a terrível madrasta da Aurora (Bela Adormecida) que, de uma elegante e sombria mulher fatal se transformava num pavoroso dragão para combater o bondoso príncipe Filipe, personagem a quem eu aderia, e na minha delirante imaginação incorporava.
Agora, nestes lustrosos e esclarecidos tempos, a moda é outra. Bruxa é outra coisa completamente diferente. A minha filhota pequena mostra-me todos os dias mais e mais simpáticas bruxinhas, de que é fã devota. Na televisão, na Internet e nas revistas, estas novas bruxas são mesmo boas e giras. São as Winx, as Witch, a Sabrina… tudo intrépidas, ágeis e esbeltas adolescentes, namoradeiras heroínas, na luta contra o Mal. Cabelos ondulantes, pernas esguias, olhos insinuantes com longas pestanas, lábios fofos de botox.
E então pergunto-me: afinal, que foi feito das fadas de antigamente? Sobram umas quantas nos bailiados do Tchaikovsky e nos clássicos da Disney em promoção por altura do Natal, e pouco mais. Consta à boca fechada que essas divinas e angelicais senhoras “de bem” estão desempregadas, fora de moda, da alta-roda e da agenda infanto-juvenil. Bom… Não me parece que em desespero e abandonadas se tenham por fim exilado em algum lar ou asilo. Ou então, será que essas jovens e virginais criaturinhas mágicas, deitadas ao desprezo, se tenham feito à vida voando pelos céus e retornaram, anónimas, para novas e contemporâneas ribaltas, para novas audições e concorrendo aos novos papéis? Por que não incarnarem na pele de belas e delicadas bruxinhas, de calças de ganga e sapatos da moda… sem esquecer a velha vassoura e varinha mágica, seu velho e reutilizável adereço?
Mas com estas trocas e baldrocas, a verdade é que fica tudo um pouco confuso e mentiroso para as nossas criancinhas. Fica a faltar um boneco, a figura, a má da fita, a simbologia da Morte e do Mal na vida, que, apesar de todos os relativismos, afinal sempre existe, existiu e existirá, mesmo se representado por uma mulher.
Agora, nestes lustrosos e esclarecidos tempos, a moda é outra. Bruxa é outra coisa completamente diferente. A minha filhota pequena mostra-me todos os dias mais e mais simpáticas bruxinhas, de que é fã devota. Na televisão, na Internet e nas revistas, estas novas bruxas são mesmo boas e giras. São as Winx, as Witch, a Sabrina… tudo intrépidas, ágeis e esbeltas adolescentes, namoradeiras heroínas, na luta contra o Mal. Cabelos ondulantes, pernas esguias, olhos insinuantes com longas pestanas, lábios fofos de botox.
E então pergunto-me: afinal, que foi feito das fadas de antigamente? Sobram umas quantas nos bailiados do Tchaikovsky e nos clássicos da Disney em promoção por altura do Natal, e pouco mais. Consta à boca fechada que essas divinas e angelicais senhoras “de bem” estão desempregadas, fora de moda, da alta-roda e da agenda infanto-juvenil. Bom… Não me parece que em desespero e abandonadas se tenham por fim exilado em algum lar ou asilo. Ou então, será que essas jovens e virginais criaturinhas mágicas, deitadas ao desprezo, se tenham feito à vida voando pelos céus e retornaram, anónimas, para novas e contemporâneas ribaltas, para novas audições e concorrendo aos novos papéis? Por que não incarnarem na pele de belas e delicadas bruxinhas, de calças de ganga e sapatos da moda… sem esquecer a velha vassoura e varinha mágica, seu velho e reutilizável adereço?
Mas com estas trocas e baldrocas, a verdade é que fica tudo um pouco confuso e mentiroso para as nossas criancinhas. Fica a faltar um boneco, a figura, a má da fita, a simbologia da Morte e do Mal na vida, que, apesar de todos os relativismos, afinal sempre existe, existiu e existirá, mesmo se representado por uma mulher.
Etiquetas: Bocas, Crónicas, Quotidiano