quinta-feira, dezembro 14, 2006

Presidente Correa

Devia estar satisfeito: pela primeira vez um Correa ascende às elevadas funções de Presidente da República. Refiro-me a Rafael Correa, meu provável parente muito distante, que acaba de ser eleito chefe do Estado do Equador. Devia estar, mas não estou. Porque nesta entrevista que deu recentemente ao El País Rafael Correa revelou-se mais demagógico do que alguém poderia esperar. Demagogia de esquerda, dir-se-á. Não lhe serve de atenuante, reconheça-se: ao pé dele, o Manuel Monteiro dos piores tempos fazia figura de estadista.
O que disse o novo líder do Equador? Que tenciona mudar o sistema político do país “para acabar com certas máfias” (havia em Lisboa, aqui há uns anos, quem lhes chamasse “sanguessugas”...). A economia pode esperar pois “está vinculada à reforma política porque as máfias estão em todo o lado”. Para já, fica a certeza de que “não haverá medidas [económicas] de ajuste severas”, o que “castigaria os pobres”. Mantêm-se as “ajudas públicas” e promete-se desde já uma “redução dos custos dos serviços públicos, como a electricidade”, o que poderá valer ao meu hipotético primo um futuro Prémio Nobel da Economia. Ah, é verdade: num supremo passe de demagogia, o Rafael começará por reduzir para metade o seu próprio salário como presidente, que baixará de oito mil dólares (cerca de seis mil euros) para quatro mil (três mil euros). Dólares, sim – a divisa americana deve manter-se como moeda oficial do país, o que não impede Rafael Correa de repetir um estribilho que agradaria aos seus mentores Fidel Castro e Hugo Chávez: “Hasta la victoria sempre!”
O que faz correr Correa? O sopro revolucionário, agora caucionado pelas urnas. Claro que a “revolução”, quando é paga em dólares, tem sempre mais encanto. Mesmo assim, com este arranque, não auguro nada de bom para o mandato do meu primo...