O sole mio (1)
Há muito tempo que não concordava tanto com José António Saraiva. O arquitecto que dirige O Sol ocupa esta semana duas páginas da revista Tabu com uma brilhante dissertação, bem ao seu jeito, sobre "o dilema dos beijos", tema aliás recorrente nas crónicas que assina. "O beijo, nos dias que correm, já só serve para confundir - deixou de servir para distinguir", preocupa-se o homem que sonha justamente com o Nobel da Literatura. Estou com ele: "Quantos não ficaram de cara pendurada e sorriso amarelo porque se tinham programado para dar dois beijos e o outro virou a cara depois de dar o primeiro?" Mas felizmente há solução. O arquitecto, que já ficara célebre por ter inventado o saco de plástico do Expresso, faz agora outra sugestão às massas ignaras com uma tese inédita sobre a melhor forma de oscular: "Que se regresse à moda dos dois beijos." É uma moda portuguesa, com certeza. "Mais de 30 anos passados sobre o 25 de Abril, é tempo de percebermos o ridículo que consiste em querermos distinguir-nos uns dos outros através dos beijos."
Brilhante Saraiva: dois beijos sim, um beijo não. Só por isto já valia a pena haver o Sol.