Gostos também se discutem
Neste artigo de Dina Gusmão sobre a exposição «Presidentes de Portugal» patente no Palácio de Queluz, volto a confrontar-me com o para mim incompreensível retrato de Jorge Sampaio pintado por Paula Rego. O ex-presidente terá optado por esta versão pois «traduzia melhor a expressividade das mãos». As mãos são, com efeito, o detalhe que mais se evidencia por se assemelharem a garras de pássaro dada a separação pouco natural dos dedos. Mas tudo o resto no retrato é para mim bizarro: O tamanho inusitado dos pés 45 biqueira larga, o casaco desmesurado mas com as mangas tão puxadas para cima que o fazem parecer um anão, a gravata excessivamente longa e, finalmente, a cara que parece a de alguém que foi vítima de paralisia facial e simultaneamente sofre de bócio na parte de trás do pescoço. Talvez eu seja cego perante a verdadeira arte. Ou talvez este retrato seja uma grande treta. O busto da República, a qual contempla fascinada a nuca de Sampaio, parece conhecer a resposta.