Ler os outros
É muito reconfortante quando a séria e discreta erudição é partilhada na praça pública, ou neste caso na Alameda Digital. Foi com muito gosto que aí fui encontrar (mais vale tarde...) Carlos Bobone e a sua coluna “Obras Esquecidas de Autores Famosos” que explora os “Lados B” das bibliografias consagradas. Interessante este artigo que vem relembrar as pouco referenciadas teses racistas da superioridade da raça indo-europeia, por parte de um histórico Oliveira Martins, um dos grandes mitos do socialismo português:
Nos anos 70 do século XX, um dos mais populares almanaques publicados nos Estados Unidos, “The Book of Lists”, apresentava uma lista dos piores seres humanos de todos os tempos. Aí aparecia o nome do Conde de Gobineau em décimo lugar, depois de Hitler, Staline, Átila, Calígula, Ivan o Terrível e outros flagelos humanos do mesmo calibre. Sendo o autor do “Ensaio Sobre a Desigualdade entre as Raças Humanas” menos conhecido que os seus companheiros de lista, e não se lhe podendo assacar a responsabilidade directa por massacres, torturas ou desgraças colectivas, o almanaque justificava a sua presença explicando que se tratava de um autor francês do século XIX, conhecido pela sua teoria de que a raça ariana era superior a todas as outras. A autoria desta tese racista foi reputada suficientemente grave para o tornar merecedor de inclusão na lista das piores criaturas que a humanidade gerou.
Se os autores do almanaque tivessem tido ocasião de viajar pelo sul da Europa, correriam o risco de passar por um pequeno país onde ainda hoje é objecto de grande veneração a obra de um dos mais eruditos congéneres do Conde de Gobineau. E onde o autor de teses sobre a superioridade da raça ariana é tido por um dos mais apreciáveis seres humanos que a sua pátria se orgulha de ter dado à luz, chegando-se ao ponto de o partido do governo se ufanar de o ter entre os seus precursores.
A ler na integra aqui mesmo na Alameda Digital.
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