Salazar e os camponeses
A crónica de Maria Filomena Mónica na revista Pública de hoje, sobre Salazar e um programa de televisão, parece-me ilustrar o maior problema das elites portuguesas: no fundo, nunca gostaram do povo que dirigem.
Lido a esta luz, o texto é magnífico e não deixa margem para dúvidas. Leiam este excerto:
(...)“Quando, em 1928, Salazar foi nomeado ministro das Finanças, 80 por cento dos portugueses viviam no e do campo. Talvez seja despropositado lembrar algumas das suas características, até porque, num país dado a sonhos bucólicos, raramente se fala dos defeitos desta tribo rural. Ora, eles são múltiplos. Os camponeses formavam um exército de gente tacanha, manhosa, hipócrita, desconfiada e sobretudo avessa a riscos, o que em parte se compreende, dada a miséria em que viviam” (...)
Na sequência destas frases, a autora tenta depois explicar que “a maioria daqueles traços fazia parte da personalidade do ditador”, a tese de Maria Filomena Mónica naquela crónica.
Obviamente, não pretendo discutir a opinião da autora sobre o ditador. Ela saberá infinitamente mais do que eu sobre isso. Mas quero discutir aqui o retrato que faz do povo português de 1928, porque me parece evidente que a sua opinião está totalmente errada.
Dou um exemplo: o meu avô Eurico era um camponês nessa época e, embora o tenha conhecido muito mais tarde, no final da década de 60, não me lembro de uma pessoa “tacanha, manhosa, hipócrita, desconfiada e avessa a riscos”. Pelo contrário, lembro-me de uma pessoa gentil, sonhadora, contadora de histórias, que amava a natureza e as crianças (os seus netos). Lembro-me de um homem que, com 80 anos, vivia a sua vida independente e tinha alegria nisso. Nunca foi miserável, mas apenas pobre. E lembro-me também que contava um caso da sua vida em que mostrou a maior coragem. Além disso, não recordo qualquer momento em que o meu avô Eurico tenha mostrado qualquer sinal de agressividade ou violência.
O retrato feito por Maria Filomena Mónica sobre o povo português em 1928 só pode ser falso.
Lido a esta luz, o texto é magnífico e não deixa margem para dúvidas. Leiam este excerto:
(...)“Quando, em 1928, Salazar foi nomeado ministro das Finanças, 80 por cento dos portugueses viviam no e do campo. Talvez seja despropositado lembrar algumas das suas características, até porque, num país dado a sonhos bucólicos, raramente se fala dos defeitos desta tribo rural. Ora, eles são múltiplos. Os camponeses formavam um exército de gente tacanha, manhosa, hipócrita, desconfiada e sobretudo avessa a riscos, o que em parte se compreende, dada a miséria em que viviam” (...)
Na sequência destas frases, a autora tenta depois explicar que “a maioria daqueles traços fazia parte da personalidade do ditador”, a tese de Maria Filomena Mónica naquela crónica.
Obviamente, não pretendo discutir a opinião da autora sobre o ditador. Ela saberá infinitamente mais do que eu sobre isso. Mas quero discutir aqui o retrato que faz do povo português de 1928, porque me parece evidente que a sua opinião está totalmente errada.
Dou um exemplo: o meu avô Eurico era um camponês nessa época e, embora o tenha conhecido muito mais tarde, no final da década de 60, não me lembro de uma pessoa “tacanha, manhosa, hipócrita, desconfiada e avessa a riscos”. Pelo contrário, lembro-me de uma pessoa gentil, sonhadora, contadora de histórias, que amava a natureza e as crianças (os seus netos). Lembro-me de um homem que, com 80 anos, vivia a sua vida independente e tinha alegria nisso. Nunca foi miserável, mas apenas pobre. E lembro-me também que contava um caso da sua vida em que mostrou a maior coragem. Além disso, não recordo qualquer momento em que o meu avô Eurico tenha mostrado qualquer sinal de agressividade ou violência.
O retrato feito por Maria Filomena Mónica sobre o povo português em 1928 só pode ser falso.