No melhor dos mundos
Hoje, bem cedo, comprei o Correio da Manhã. Não tardei a arrepender-me: só trazia notícias de arrepiar. Títulos de capa: "Menino fechado em casa pelos pais morre queimado"; "Casal atropelado à frente das filhas menores"; "Mulher matou marido à machadada". Fiquei a saber também que "um vendedor de castanhas morreu num triciclo no túnel do Campo Grande", um homem foi "atropelado pelo metro" e uma "idosa [foi] atacada por cão vadio".
Estava quase a deitar fora tão depressivo matutino quando encontrei o que me pareceu ser uma boa notícia: "Elsa Raposo grávida". Descendo ao pormenor, no entanto, percebia-se que a informação não era tão risonha como indiciava à primeira vista. Segundo o CM, "a ex-apresentadora(?) está grávida de um mês", mas do ex-namorado Mário Esteves, numa altura em já "refez a sua vida" com um tal de Pedro Pereira, "por quem diz estar muito apaixonada". Confrontada com a notícia, Elsa emitiu uma declaração ambígua: "Ainda não é verdade, mas será em breve porque tenho muita vontade de voltar a ser mãe. Com o tempo se verá se estou grávida ou não." Já o referido Mário parece mais convicto: "Dentro de oito meses nascerá um ou uma surfista ou então estarei de luto." E de luto porquê? "Sou contra o aborto, por isso só me resta dizer que eu e os meus pais ficaremos muito felizes com mais um membro na família."
Foi demais para mim: uma verdadeira edição de pesadelo. Rumei então ao congresso do PS, onde pude enfim respirar fundo: José Sócrates e mais de mil delegados socialistas garantiram, a mim e ao País, que vivemos no melhor dos mundos.
Admito que sim. Mas, à cautela, tão cedo não volto a comprar o Correio da Manhã.