sexta-feira, novembro 10, 2006

Antes e depois

Há fenómenos que decididamente não compreendo e esta coisa dos emagrecimentos é um deles. Explico porquê. Abre-se a net e só vemos "emagreça dormindo", "adquira um abdomén perfeito", "entre em forma, garantia do Pelé", farmácias vendem comprimidos, patches, pomadas, chás, as montras estão feitas para corpinhos sem mácula, nos restaurantes só se vê gente a comer iogurtes, saladas de frutas, alface ou frango, peixe grelhado, pescada cozida e nos ginásios aumentam as filas de carros. O combate à celulite torna-se um desígnio pessoal, a rádio acorda-nos com planos de emagrecimento, as agências de viagens prometem-nos o paraíso para bikinis brasileiros, as revistas tornam-nos cúmplices de uma sociedade sem barrigas a bem da felicidade conjugal, as clínicas de estética oferecem pernas à la carte sem dor e a prestações, consultas para nutricionistas só para os idos de Março, fora os produtos naturais que não fazem mal e tiram a fome. Os supermercados mostram os últimos trunfos da estética que vão desde o leite condensado light, à marmelada light, passando pelos donuts light, para mim um enorme mistério. E isto sem esquecer os planos "mexa-se mais" em vídeo e em livro: nem as livrarias escapam à febre do "entre em forma" com as Cindy Crawford & friends, já com a pioneira Jane Fonda a cair da tripeça.
E a televisão, meus amigos? Nada como uma noite de insónia para tomarmos conhecimento do mundo delirante dos milagres que nos são ofererecidos. São máquinas diabólicas que transformam o corpo só com dez minutos de exercício diário em passadeiras domésticas (pagas a suaves prestações) em que ninguém parece transpirar. Pelo contrário, o Sr. Smith e a Sra. Wallace apresentam um ar feliz e tão compostinho como estes maravilhosos equipamentos. Igualmente fantástica uma cinta elástica que aperta, amassa e tritura todo o qualquer tipo de protuberância corporal. Não emagrece, não tonifica o sangue, só encolhe. Vi com os meus olhos (ensonados) o antes e o depois: a dona Clarinda com umas calças 46 (sem cinta) e com uma cinturinha de vespa 42 com a cinta.
Desconfio que aquilo deve ser tudo uma questão de fé. Lembro-me sempre de uma "convertida" com muitos quilos a mais que encontrei na farmácia a comprar uma bisnaguinha de creme adelgaçante.
E depois disto tudo, acabo de ler que cada vez há mais pessoas gordas. Vá lá a gente entender estas coisas.
Bom fim de semana.